Trovões que ressoam cá dentro, a electricidade que te trespassa com pele de galinha, o braço de ferro com o vento que não te deixa caminhar. Abres os braços e deixas que te sustenha, é um pouco como voar. Lembraste das gaivotas que pairam fixas no mesmo ponto.
E tu ris.
Na luz dos relâmpagos vejo o teu sorriso desafiante, prepotente, premonição de uma gargalhada profunda que só ouço na minha cabeça. No escuro penso em mim, não te vejo e não existes. Depois, a cada trovão salto em mim mesma, salto até ao precipício que está entre nós e sustenho a respiração num equilíbrio precário para não cair.
Dizem que os loucos riem com a tempestade. Penso nisso quando ouço a tua gargalhada a cada trovão, ouço-a sempre mais perto. Ouço-a enquanto sai dos meus lábios e vejo-a reflectida no espelho desta chuva sem clemência.